terça-feira, 26 de maio de 2015

TALVEZ A ESPERANÇA ESTEJA NO “PÓ”

Por muitos anos, acreditei que o orgulho, a altivez de espírito, enfim, a arrogância, fossem características exclusivas dos ricos e poderosos. Com o passar do tempo e já bem mais maduro, cheguei à conclusão de que estava totalmente equivocado. A altivez e a arrogância são características inerentes aos seres humanos, talvez devido à ação danosa do pecado herdado do primeiro homem, independentemente de sua condição social ou financeira. Já tive o privilégio de conhecer e conviver com pessoas que, apesar de serem ricas e influentes na sociedade, demonstravam uma incrível humildade e simplicidade. Do mesmo modo, conheci pessoas pobres, carentes, desprovidas de todos os recursos indispensáveis para se viver com um mínimo de dignidade e, nem por isso, deixaram de ser orgulhosas e prepotentes.

Deus escolheu uma tribo chamada Israel para servir de modelo para os demais povos. Eles foram educados e preparados para influenciar o mundo, mas esse povo tinha, entre tantos outros defeitos, um que enfurecia o Criador. Por diversas vezes, Deus usava os Seus profetas para advertir aquela tribo, e uma das expressões divinas que se tornou recorrente no Antigo Testamento foi: “Este povo é de dura cerviz”, ou seja, de coração endurecido, resistente à mudança. Parecia que suas colunas estavam permanentemente engessadas, impedindo-os de se curvarem, mesmo diante das piores experiências possíveis.

O profeta Jeremias escreveu um livro chamado Lamentações. Esse nome não foi dado por acaso, pois trata-se da narrativa de um povo que sofreu terrivelmente o cativeiro babilônico por aproximadamente 70 anos. Diante do poder do exército inimigo na época, liderado por Nabucodonosor, seria quase impossível para aquela tribo libertar-se da escravidão e voltar a ter uma vida livre e feliz.

Hoje, apesar de o contexto ser totalmente diferente do daquela época, existem multidões sofrendo horrores semelhantes, tais como: miséria em todos os aspectos, desde a social até a conceitual; aprisionamento nas mais variadas formas, seja em um relacionamento problemático, seja no uso indiscriminado de entorpecentes; enfermidades de diversas origens, principalmente as chamadas psicossomáticas, ou seja, doenças da alma. Além disso, há ainda a presunção e a altivez, que fazem com que muitos se recusem a se curvar, acreditando que, sozinhos, poderão vencer as lutas do dia a dia.

O profeta, ao se deparar com a situação daquele povo, começa a descrever seus lamentos, como se tentasse mostrar-lhes que existia uma saída, talvez a única. A verdade é que não havia uma solução mágica, sem esforço ou mudança. Era preciso, antes de tudo, retirar o gesso das costas. Eles precisavam reconhecer seus erros e, ao fazê-lo, curvar-se diante dAquele que poderia transformar suas vidas para sempre: o Senhor do universo.

No versículo 29 do capítulo 3, Jeremias apresenta uma solução simples para o problema daquela tribo, utilizando a seguinte expressão: “Ponha a boca no pó, talvez ainda haja esperança”. Mas o que ele queria dizer com isso?

Em primeiro lugar, aquelas pessoas precisavam reconhecer sua pequenez, impotência, miserabilidade, fragilidade e limitação. Precisavam abandonar a arrogância, a presunção, a autossuficiência e a autoconfiança. Para um homem, pôr a boca no pó significa curvar-se completamente até que seus lábios toquem o solo e sua coluna forme um ângulo convexo. É a imagem da criatura rendendo-se totalmente ao Criador.

Em segundo lugar, Jeremias sugere que, ao fazerem isso, poderia haver esperança. Ou seja, havia uma grande probabilidade de Deus intervir na situação, no problema, na luta, no desafio — enfim, de mudar a história daquele povo. Assim como fez com Israel, dando-lhe uma segunda chance e permitindo que voltassem para sua cidade natal para recomeçarem suas vidas livres da opressão e do cativeiro.

O termo “dura cerviz” aparece na Bíblia cerca de 18 vezes, enquanto a palavra “humilhar” e suas derivações aparecem aproximadamente 69 vezes. Para cada advertência de Deus sobre a condição e a causa do sofrimento de Seu povo, Ele ordena três vezes mais que se humilhem, como condição básica para serem tocados e libertos.

Portanto, se as coisas estão difíceis — para não dizer impossíveis —, sigamos a orientação do profeta Jeremias e curvemo-nos totalmente diante dAquele que tem poder para operar infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, segundo o poder que opera em nós: Cristo Jesus. Pois, à luz da Bíblia, não nos resta outra opção senão essa. (Lc 14.11 e 18.14; Ef 3.20)


Soli Deo Glória

Juvenal M. de Oliveira Netto

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