Por muito tempo perdurou a ideia de que acreditar
nas narrativas da Bíblia e procurar segui-la seria algo para pobres, incultos
ou pessoas desesperadas, entretanto, existem evidências, testemunhos que nos
levam a crer que a mensagem do evangelho alcançou a todos de forma indistinta,
independentemente de fatores sociais, econômicos ou culturais. Aqui será explanado
o encontro com Jesus de um homem que ocupava uma posição de destaque na
sociedade judaica. Nicodemos era membro do Conselho Judaico, chamado Sinédrio,
um Senador que possuía grande autoridade em Jerusalém. Era um homem influente e com alto poder
aquisitivo.
O Evangelho de João, único a
mencionar a experiência vivida por Nicodemos, relata como ele foi ao encontro do
Nazareno no intuito de buscar esclarecimentos acerca dos seus inúmeros
questionamentos, apesar de exercer a função de “mestre” dentre os religiosos
fariseus. Ele começa o seu diálogo reconhecendo que Jesus era mesmo quem dizia
ser, isto é, o Filho de Deus, pois, segundo ele, jamais alguém poderia realizar
tamanhos prodígios se o Eterno não fosse com ele. No entanto, apesar de possuir
convicção sobre essa realidade e de conhecer minuciosamente as Sagradas Escrituras,
não tinha a menor ideia sobre o que fazer para ter acesso ao seu Reino. Existem
inúmeras pessoas com histórico de vida parecidos com a desse indivíduo, apesar
de possuírem diversas graduações em distintas áreas e se relacionarem com
grandes intelectuais, usualmente, não são capazes de compreender realidades
espirituais. Assim como esse fariseu, até creem em Jesus, mas, não sabem ou não
querem saber o que fazer para transformar essa crença superficial em algo
concreto, capaz de levá-los a outra dimensão.
Nicodemos teve a grande prerrogativa de ouvir todo
o plano da salvação diretamente dos lábios de Jesus, inclusive do trecho que é
considerado por muitos estudiosos como sendo o coração da Bíblia que diz assim:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito,
para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna”
(Jo 3.16). Jesus deixa muito claro para esse homem que crer nEle é condição
fundamental para uma pessoa ser salva, assim como a condenação é certa para
aqueles que não crerem (Jo 3.18).
Totalmente diferente dos demais encontros com o
Mestre, onde as pessoas se encontravam num estágio de dor e sofrimento
provocados por alguma adversidade ou situação, nesse caso, esse homem foi até
Jesus simplesmente por estar interessado na sua mensagem. Talvez todo o seu ‘status’,
conhecimento filosófico acerca de Deus e poder aquisitivo não fossem o bastante
para preencherem o vazio existente em sua alma. Quanta gente enganada
acreditando que o “mundo” poderá suprir todas as suas necessidades!
Logo, a experiência vivida por esse líder religioso
tem muito a nos ensinar. Primeiro, devemos vencer a prepotência, a altivez de
espírito e estarmos sempre dispostos a aprendermos com o Mestre dos mestres,
independentemente do nível intelectual alcançado. Segundo, não permitirmos que
as tradições religiosas ou até mesmo a “religião” se sobrepujem aos
ensinamentos do próprio Cristo. Terceiro, vale a pena renunciarmos a tudo por
Jesus. O evangelista João faz menção de Nicodemos por três vezes e, apesar de
não haver detalhes mais específicos sobre ele, tudo leva a crer que tenha se
convertido ao evangelho e se transformado num discípulo de Cristo (Jo 3.1-21;
7.50 e 19.38-42). Que encontro surpreendente!
Juvenal Netto