quinta-feira, 7 de outubro de 2021

ENCONTROS NOTÁVEIS – SÉRIE XXIX

 

O raciocínio lógico é um dos pontos cruciais que impede a harmonia entre ciência e religião. As chamadas ciências exatas estão alicerçadas, fundamentadas em pilares indestrutíveis os quais podemos defini-los como expressões quantitativas e predições precisas. Se existe uma palavra que não é bem aceita pelos estudiosos desse campo é a improbabilidade, no entanto, a religião caminha no sentido antagônico. Seria pouco provável pressupor que um homem declaradamente inimigo mortal do movimento intitulado de “O Caminho”, viesse a se tornar um dos seus maiores propagadores (Atos 9; 22 e 26). 

Saulo era um judeu ortodoxo, da tribo de Benjamim e pertencente a seita dos fariseus. Foi criado sob a influência de um dos maiores sábios da época, chamado Gamaliel, ou seja, era um homem muito culto. Possuía profundo conhecimento sobre as Escrituras e procurava cumpri-las fielmente. Ele ficou irado quando soube que os discípulos de Jesus, após sua ressurreição, se dispersaram por toda a região da Ásia com o propósito de propagar com intrepidez a mensagem do evangelho. O crescimento dos cristãos começou a incomodar os adeptos do judaísmo, dentre eles, em especial, Saulo, o qual decidiu partir à caça desses “hereges”. Ele foi o responsável pela prisão e açoites de muitos deles, inclusive, estava presente quando Estêvão, um dos primeiros mártires do cristianismo foi morto a pedradas simplesmente por anunciar a Cristo. Saulo em posse de cartas dos Sumos Sacerdotes partiu para Damasco, uma das principais cidades da época, com a intenção de visitar as sinagogas, identificar e prender todos os discípulos de Jesus. No entanto, ele é surpreendido quando chegava à cidade por uma forte luz que o derruba do seu cavalo e ouve a voz daquele que transformaria sua vida para sempre: “Saulo, Saulo, por que tu me persegues? Disse-lhe Jesus. ”

Saulo de Tarso, o perseguidor algoz de cristãos, a partir de então seria conhecido pelo seu nome romano, Paulo, e considerado o apóstolo dos gentios. Uma transformação tão extraordinária que até mesmo os discípulos mais proeminentes levaram tempo para crer que aquele homem era digno de confiança, pois pensavam se tratar de uma dissimulação sua com o intuito de capturá-los. 

Paulo se tornou um verdadeiro ícone para a igreja cristã. Realizou três viagens missionárias e foi o responsável pela implantação de várias igrejas. Testemunhou acerca de sua experiência com Cristo e pregou com ousadia a várias autoridades da época, tendo ouvido do rei Agripa a seguinte declaração: “Por pouco me persuades a me fazer cristão” (Atos 26.28). Realizou curas, sinais e prodígios; as Escrituras testificam que os seus lenços e aventais eram levados aos enfermos e eles eram curados, sempre tributando toda honra a Cristo (Atos 19.12). Escreveu treze epístolas as quais foram inseridas no cânon bíblico; seus manuscritos são amplamente utilizados por toda a comunidade cristã até os dias atuais, e, sem sombra de dúvidas, é um instrumento poderoso para o fortalecimento da fé de milhares de pessoas e um dos pilares da doutrina cristã. Entretanto, sua vida não foi só ‘glamour’, pelo contrário, sofreu muito pelo evangelho. Foram perseguições, açoites, apedrejamentos, naufrágios, prisões, traições, injúrias, fome, mas, em tudo, glorificou a Deus e testemunhou a sua fé inabalável em Cristo. Sua história vem servindo de inspiração para milhares de pessoas e comprova o que Deus pode fazer na vida de alguém, independentemente do que tenha feito no passado. Paulo é a encarnação viva da palavra transformação e a prova do que Deus consegue fazer através de uma vida entregue por inteiro. Não conheço um texto sequer que se aproxime do que escreveu sobre a definição da palavra amor (I Co 13). Seu amor por Cristo é contagiante e emocionante e ele consegue expressar muito bem isto em uma de suas frases clássicas:

“Mas de nada faço questão, nem tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus. ”  (Atos 20.24)

Jesus treinou ininterruptamente doze homens durante três anos com a missão ímpar de levar sua mensagem ao mundo, não obstante, algo inusitado aconteceu. Ele decide se revelar justamente a um homem considerado inimigo número um de seus discípulos e lhe dar uma desafiadora e peculiar missão, pregar para os povos não judeus.

Logo, o encontro de Paulo com Jesus vem corroborar a ideia que a lógica de Deus difere da humana, como ele mesmo disse em uma de suas cartas que Deus usa as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias, bem como as fracas para confundir as fortes (I Co 1.27). No reino de Deus muitas coisas possuem o sentido inverso do ensinado neste mundo. Os últimos serão os primeiros; ganha aquele que perde; o maior é aquele que serve; doar é algo melhor que receber; é preciso se humilhar para ser exaltado; ser perseguido é maior bem-aventurança que perseguir os outros, o apóstolo Paulo que o diga!

Juvenal Netto