sexta-feira, 26 de agosto de 2022

TEMPESTADES IMAGINÁRIAS COM PODERES AINDA MAIS AVASSALADORES

 


A mente humana certamente é a parte mais complexa do corpo. Por mais que reconheçamos o avanço alcançado pela ciência nas últimas décadas, constatamos que ainda existem muitos mistérios a serem desvendados. O cérebro possui algumas especificidades e uma delas que nos chama a atenção é a capacidade tanto em produzir cura, bem como criar e produzir enfermidades na mesma proporção. Convido vocês a analisarem comportamentos de homens cujas mentes exerceram grande protagonismo diante de situações atípicas.

O primeiro deles chama-se Estevão e foi um discípulo cheio de fé e do Espírito Santo, escolhido para formar a primeira equipe diaconal da igreja primitiva (At 6.1-7). Ao propagar o evangelho acabou desagradando judeus religiosos, os quais inflamaram a multidão com o propósito de apedrejá-lo até a morte por ter supostamente cometido blasfêmia. Imaginem vocês a cena! Um indivíduo encurralado por uma turba enfurecida, munida de pedras de variados tamanhos, preste a começar o massacre. Ele sabia estar sentenciado. No entanto, uma coisa é morrer por um único golpe, com pouca dor, ou, ainda que ela seja intensa, perdure por um curto período; outra completamente diferente é morrer gradualmente a cada pedra lançada. Estevão estava diante de uma grande “tempestade” e tinha tudo para entrar em pânico, antes mesmo de receber o primeiro impacto. Entretanto, se mantém calmo até o seu último suspiro de vida e ainda intercede a Deus por aquelas pessoas. Sua mente conseguiu de alguma forma  blindar-se daquele estresse, amenizando o seu sofrimento. A tempestade contemplada por ele, apesar de ter sido cruel, não conseguiu adentrar a sua mente.

O segundo episódio trata-se de uma experiência coletiva vivida pelos apóstolos (Mc 4.35-41). Quem ousaria desobedecer a uma ordem do Filho de Deus? Jesus disse para os seus discípulos entrarem no barco, pois, iriam atravessar o mar da Galileia. O Mestre, muito cansado, entra na embarcação e logo pega no sono. Depois de alguns instantes surge uma tempestade horripilante. Grande parte da sua equipe era formada por exímios pescadores, ou seja, homens experientes e acostumados a mares revoltos. Ainda, assim, todos ficaram apavorados. Foram desestabilizados emocionalmente por mentes que se renderam a realidade sombria do momento. Eles suplicam pela ajuda de Jesus temendo a morte. Pela reação desses homens, chegamos à conclusão de que essa tormenta se tornou ainda mais intensa pelo fato de ter dominado suas mentes.

O terceiro comportamento a ser citado aqui é o do profeta Elias (I Rs 17-19). Um homem ousado que desafiou 450 profetas de um falso deus chamado Baal. Eles teriam que construir um altar. Sacrificar um animal e invocar o seu Deus a fim de fazer descer fogo e consumir a oferta. Elias sai vitorioso, pois Yahweh responde sua oração e todos viram o fogo lamber o cordeiro. Ele lança mão da espada e corta a cabeça de todos aqueles impostores. Jezabel, esposa de Acabe, rei de Israel, quando toma conhecimento da morte de seus profetas, envia um mensageiro até Elias para ameaçá-lo de morte. Ele agora foge, e, deprimido, pede a Deus para si a morte. Aquele servo destemido havia acabado de transpor uma “tempestade real”, no entanto, a simples ameaça de uma mulher produz na sua mente agora uma imaginária. Ele foi traído por sua mente que o deixou totalmente debilitado.

Por isso, podemos concluir que as piores tempestades não são as externas e sim as internas. Aquelas que conseguem atingir as nossas almas, dominando nossas mentes. Ainda que essas sejam muitas vezes apenas imaginárias, possuem efeitos tão devastadores quanto as reais, incapacitando e gerando dor e sofrimento. A boa notícia é que o Senhor estará sempre pronto a atender ao nosso clamor (Sl 6.9, 28.6, 42.5-11, 46.1, 116.1-8; 2Tm 2.13). Acompanhou o profeta nos momentos em que ele estava cheio de vigor físico e espiritual e não o desamparou quando adoeceu emocionalmente. Deus enviou todo o suporte necessário para que o seu servo pudesse ter sua saúde reestabelecida e poder concluir sua missão. Só ele pode acalmar as tempestades mais avassaladoras da nossa alma.

Juvenal Netto

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

CANSEI DE ORAR

 


Se existe algo que produz esgotamento espiritual até mesmo em pessoas que procuram manter um íntimo relacionamento com Deus, é quando pedem por longos períodos uma coisa que consideram imprescindível e não conseguem uma resposta satisfatória. Por que o Senhor não me ouve, ó Deus? Quem nunca pronunciou uma frase como esta na hora da angústia?

Em primeiro lugar é preciso compreendermos que a petição é apenas um aspecto do relacionamento que procuramos desenvolver com o Eterno. Como você se sentiria se alguém lhe procurasse apenas para lhe pedir um favor? Para determinadas pessoas as palavras “orar” e “pedir” são sinônimas. Deus é um ser pessoal. Ele não pode ser rebaixado a uma condição de um mero detentor de energia ou força, ainda que extraordinária. Como ser imanente, deseja estar conosco e participar de nossos variados momentos e experiências, sejam bons ou ruins. O primeiro milagre de Jesus não foi em um lugar místico, litúrgico ou visitando um moribundo à beira da morte, mas numa festa de casamento, transformando água em vinho. Ele só estava lá porque possuía uma afinidade com os noivos e seus familiares. Fazia parte do rol de amizades daquela família. Orar significa desenvolver um diálogo, uma conexão com o Senhor através da qual vamos compartilhar acontecimentos, sonhos e idealizações. O fator preponderante nessa conversa não deve ser apoiado naquilo que se pode obter dele, mas, tão somente no privilégio de gozar de sua doce e inigualável companhia.

Outro aspecto é compreendermos que o Criador não está sujeito ao tempo humano. Alguns servos serão atendidos imediatamente em suas petições, enquanto outros, após anos e até décadas de insistência. Isaque pediu a Deus que operasse um milagre na vida de sua esposa Rebeca que era estéril. Ele só foi atendido vinte anos mais tarde, entretanto, a bênção veio dobrada, pois ela engravidou de gêmeos (Gn 25.20,21 e 26). Por que tanta demora? Não sabemos, mas, cremos que Deus não se atrasa. Ele faz as coisas no tempo exato. Ainda haverá aqueles que infelizmente jamais obterão um sim como resposta a sua súplica, no entanto, mais uma vez, devemos confiar no gerenciamento do Pai sobre nossas vidas. A resposta para o grande apóstolo Paulo diante de um incômodo que ele chamou de “o seu espinho na carne” foi: a minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza, ou seja, confie em mim, ainda que eu negue definitivamente sua petição (II Co 12.7-10).

O fator tempo de espera elevado não pode servir de parâmetro ou sinal da parte de Deus de que a sua resposta a determinado apelo será negativo, exceto se deixar isto muito bem claro para nós através de outros sinais. Muitos desistem, se frustram ou simplesmente cansam e se esgotam por avaliar tardio o tempo de resposta. No sermão do monte, Jesus disse o seguinte sobre a importância quanto a perseverança na oração:

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á. E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mt 7.7-11)

 

Outro motivo bastante comum que pode nos levar a desistir de nossas petições é percebermos a pequenez de nossa fé, principalmente, quando percebemos que na maioria dos milagres operados por Jesus, ele sempre dava ênfase à fé de seus agraciados. No entanto, esse também não deve ser motivo para desistências, pois, apesar de nossa fé muitas vezes se demonstrar vacilante, podemos apelar para as misericórdias do Pai que se renovam a cada manhã e podem ser uma forte aliada nas horas difíceis (Lm 3.22; Sl 77.9, 147.11).

Poderia citar várias experiências de homens e mulheres que, após perseverarem na oração, obtiveram a vitória, mas, citarei apenas a de Ana, mãe de Samuel (I Sm 1). A Bíblia não revela quanto tempo essa mulher levou orando. A cada ano que ela ia a Siló com seu marido para adorar a Deus e oferecer sacrifícios, mantinha o fervor em sua petição até que o Senhor atendeu a sua oração e abriu sua madre.  

Portanto, se não estamos pedindo mal, como alertou Tiago em sua carta, devemos continuar insistindo, a exemplo de Ana, e não esmorecermos em nossas forças, pois a nossa bênção chegará em momento oportuno, pois Ele é galardoador daqueles que o buscam (Tg 4.3; Hb 11.6).

Juvenal Netto

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

O SOFRIMENTO É CAPAZ DE PRODUZIR SALVAÇÃO?

 


Como é fascinante a estrutura dos seres humanos e proporcionalmente complexa. Todos os esforços já realizados unindo ciência, religião e demais conhecimentos adquiridos até hoje pelos homens mais inteligentes da história não foram suficientes para trazer respostas conclusivas acerca dos inúmeros questionamentos que nos rodeiam e um deles envolve os porquês do sofrimento humano.

Pela introdução utilizada aqui querido leitor você pode concluir antecipadamente que a ideia não é tratar o assunto de maneira simplista e prepotente, mas, tentarmos dirimir dúvidas quanto a algumas interpretações equivocadas e sem qualquer fundamentação substancial, tendo como base para isto as Sagradas Escrituras.

O livro de Gênesis relata como tudo começou na terra e como era a vida do primeiro casal, Adão e Eva. O criador deu-lhes plena liberdade para usufruírem de todas as maravilhas existentes no Jardim do Éden, exceto comerem do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal (Gn 1 e 2). Eles desobedeceram e o pecado entrou em suas vidas, trazendo consigo uma série de consequências danosas, dentre elas, a realidade quanto ao sofrimento, o qual passou a fazer parte da natureza humana (Gn 3; Rm 5.12). Pode-se, então, deduzir a partir da narrativa Bíblica que ele teve uma origem e uma causa.

Muitos seguimentos religiosos acreditam que o propósito para o sofrimento seria uma espécie de purificação para a alma, no sentido de a pessoa estar se redimindo e, assim, conseguir alguma recompensa no futuro. Outros veem o sofrimento como resultado da quitação de uma dívida sua ou de seus ancestrais. Foi essa a interpretação dos discípulos quando se depararam com um homem cego de nascença e perguntaram para Jesus sobre quem teria pecado o próprio ou seus pais? Jesus lhes responde que nem um, nem outro, mas, para que se manifestassem nele as obras de Deus (Jo 9.1-11).

Mesmo reconhecendo que o sofrimento teve uma origem e uma causa que contaminou toda humanidade, é muito difícil e arriscado tentarmos obter respostas sobre os níveis de sofrimento que atingem as multidões de forma peculiar. Quem assim o fizer arriscará cometer sérias injustiças. Os três amigos de Jó agiram dessa forma ao tentarem justificar tamanho sofrimento que o assolava, pois, em dado momento de sua vida, veio a perder todos os seus bens; logo em seguida os seus dez filhos de uma só vez e foi finalmente acometido por uma doença que transformou seu corpo em uma enorme chaga purulenta. Eles deduziram de imediato: tanto sofrimento só pode ser fruto de pecado e Deus o está punindo severamente por isso. Se vocês lerem o livro de Jó, verão que a causa não era essa e nem passava perto, ou seja, aqueles homens estavam totalmente equivocados. Se precipitaram e agiram não como amigos e sim como verdadeiros algozes.

O consenso que se pode chegar quanto a esse assunto é que o sofrimento atinge pessoas indistintamente e independe de classe social, raça, idade, sexo, nacionalidade, credo religioso, etc. (Ec 9.2). Em alguns casos específicos pode ser fruto de escolhas ou decisões erradas (Pv 14.12, 16.17). A luz da Bíblia podemos concluir que de uma forma generalizada ele sempre exercerá um papel pedagógico na vida das pessoas (Hb 12.6). Entretanto, só Deus sabe as razões pelas quais está permitindo que passemos por ele e quais as doses a serem aplicadas individualmente.

Infelizmente existe um grupo formado por algumas ramificações religiosas o qual ensina de forma irresponsável que as pessoas ao se tornarem cristãs estariam imunizadas ao sofrimento e a dor. Uma propaganda enganosa (“pare de sofrer”) que tem levado muita gente a abandonar a fé. Muito pelo contrário, Jesus advertiu inúmeras vezes que segui-lo não seria nada fácil e prova de seus ensinamentos é a quantidade de cristãos perseguidos, torturados e mortos já no primeiro século da era cristã (Jo 16.33; Hb 11). Entretanto, em nenhum momento ele condiciona a salvação ao sofrimento como se ele fosse uma via obrigatória para alguém adentrar ao céu. Essa linha de raciocínio não é bíblica e extremamente perigosa, pois, leva as pessoas a acreditar que quanto mais sofrerem aqui na terra, maior a certeza de estarem um dia no céu. A via obrigatória para alguém possuir seu passaporte para lá não é o sofrimento, ainda que ele faça parte da trajetória do cristão, mas, um verdadeiro arrependimento com relação ao pecado e a confissão com seus próprios lábios a Jesus como seu senhor e salvador (Rm 10.9; At 2.38, 3.19).

Isto posto, concluímos que apesar de não possuirmos respostas para todos os dilemas que envolvem o sofrimento, em alguns aspectos é possível, sim, chegarmos a respostas conclusivas e possuidoras de um alicerce sólido pautado na Bíblia e um deles é de que o sofrimento não é o meio principal e fundamental para garantir a salvação de uma pessoa. Só Jesus Cristo Salva!

Juvenal Netto