sexta-feira, 4 de agosto de 2023

SINGULARIDADES DO DISCÍPULO DE CRISTO (CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS – SÉRIE II)

 


“Não pode” é uma expressão habitualmente utilizada pelos pais ao lidar com as travessuras de seus filhos, principalmente na idade inferior aos dez anos. Quem não se lembra disso em virtude de tê-la ouvido incontáveis vezes, não é mesmo? O pior não é ser impedido de fazer algo, mas, o silêncio ou a indiferença de alguns pais em não responderem o porquê da proibição. Essa atitude causa um efeito ainda pior do que o próprio “não”, em especial, na fase da adolescência. Trataremos aqui sobre um assunto controverso, que exige respostas convincentes e que possuam embasamentos sólidos. O que a Bíblia nos orienta quanto a ingestão de bebidas alcoólicas por parte do público cristão reformado?

Certa feita estava conversando com um pedreiro, o qual realizava um trabalho em minha casa e ele me perguntou se era permitido ao cristão fazer uso de bebidas alcoólicas. Eu respondi para ele que sim. Diante de minha resposta, percebi o seu espanto, talvez pelo fato de me conhecer e saber que sou cristão há muitos anos. Daí, ele, curioso, me fez a segunda pergunta. — E, você bebe? Respondi que não. Sem entender nada, me fez a terceira pergunta. — Se não é proibido, por que você não bebe? Diante de sua perplexidade, logo percebi ter a obrigação de explicar-lhe detalhadamente o motivo pelo qual havia tomado tal decisão. Exporei a seguir os mesmos argumentos que utilizei para responder ao questionamento daquele senhor.

A Bíblia não contém texto algum dizendo “não farás uso de bebida alcoólica” ou frase parecida que contenha essa mesma conotação. Ela não condena o ingerir e sim o embriagar-se (Pv 20.1, 23.20; Is 5.11, 5.22, 28.7; Ef 5.18). Entretanto, a maioria das pessoas que recorre ao álcool com frequência não consegue evitar o estado de embriaguez, sem contar aquelas que evoluem para a dependência e são milhares delas. Quantas vidas e famílias inteiras destruídas por causa do alcoolismo? De acordo com um editorial publicado este ano pela “The Lancet Public Health”, uma revista inglesa de grande prestígio, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um alerta afirmando que não existe nível de consumo de álcool que seja seguro à saúde. Acrescentando ainda que mesmo o uso leve ou moderado está associado à incidência de câncer. Com certeza, Deus não está nesse negócio.

Todo cristão sabe que o nosso corpo é templo do Espírito Santo, por isso, devemos cuidar dele com todo zelo e responsabilidade, ou seja, devemos ser bons mordomos de algo tão precioso que o Senhor nos concedeu temporariamente (ICo 3.16; 6.19). O álcool é danoso à saúde, bem como muitas outras substâncias, portanto, deve ser evitado. Uma das piores características dele é o fato de ser uma substância que causa dependência. Uma pessoa que afirma “beber socialmente”, pode perder o controle ao passar por momentos difíceis na vida. Quem já não testemunhou essa triste realidade?

Na cultura brasileira, com algumas exceções, os cristãos reformados (evangélicos) não usam bebidas que contenham álcool. Algumas denominações chegam a se posicionar radicalmente contrárias. Por isso, esses cristãos que optam por fazerem uso dessas bebidas, se tornam motivo de escândalo para o público em geral. O apóstolo Paulo foi um dos maiores missionários da história. Além de pregar o evangelho, ele se preocupava com a saúde espiritual daqueles novos discípulos. Escrevendo aos romanos, Paulo instrui a igreja a nutrir um amor profundo uns pelos outros, a semelhança de Cristo, chegando ao ponto de não se tornarem pedra de tropeço na vida do irmão.

Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça.” (Rm 14.21)

Isto posto, apesar de não haver proibição expressa na Bíblia quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, não obstante, pelos motivos supramencionados, não é aconselhável que o discípulo de Cristo faça uso delas. Tudo me é lícito, mas, nem tudo me convém (ICo 10.23).

Juvenal Netto

Nenhum comentário:

Postar um comentário