“Não pode” é uma expressão
habitualmente utilizada pelos pais ao lidar com as travessuras de seus filhos,
principalmente na idade inferior aos dez anos. Quem não se lembra disso em
virtude de tê-la ouvido incontáveis vezes, não é mesmo? O pior não é ser
impedido de fazer algo, mas, o silêncio ou a indiferença de alguns pais em não
responderem o porquê da proibição. Essa atitude causa um efeito ainda pior do
que o próprio “não”, em especial, na fase da adolescência. Trataremos aqui
sobre um assunto controverso, que exige respostas convincentes e que possuam
embasamentos sólidos. O que a Bíblia nos orienta quanto a ingestão de bebidas
alcoólicas por parte do público cristão reformado?
Certa feita estava
conversando com um pedreiro, o qual realizava um trabalho em minha casa e ele
me perguntou se era permitido ao cristão fazer uso de bebidas alcoólicas. Eu
respondi para ele que sim. Diante de minha resposta, percebi o seu espanto,
talvez pelo fato de me conhecer e saber que sou cristão há muitos anos. Daí,
ele, curioso, me fez a segunda pergunta. — E, você bebe? Respondi que não. Sem
entender nada, me fez a terceira pergunta. — Se não é proibido, por que você
não bebe? Diante de sua perplexidade, logo percebi ter a obrigação de
explicar-lhe detalhadamente o motivo pelo qual havia tomado tal decisão. Exporei
a seguir os mesmos argumentos que utilizei para responder ao questionamento
daquele senhor.
A Bíblia não contém texto algum
dizendo “não farás uso de bebida alcoólica” ou frase parecida que contenha essa
mesma conotação. Ela não condena o ingerir e sim o embriagar-se (Pv 20.1, 23.20;
Is 5.11, 5.22, 28.7; Ef 5.18). Entretanto, a maioria das pessoas que recorre ao
álcool com frequência não consegue evitar o estado de embriaguez, sem contar
aquelas que evoluem para a dependência e são milhares delas. Quantas vidas e
famílias inteiras destruídas por causa do alcoolismo? De acordo com um
editorial publicado este ano pela “The Lancet Public Health”, uma revista
inglesa de grande prestígio, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um
alerta afirmando que não existe nível de consumo de álcool que seja seguro à
saúde. Acrescentando ainda que mesmo o uso leve ou moderado está associado à
incidência de câncer. Com certeza, Deus não está nesse negócio.
Todo cristão sabe que o
nosso corpo é templo do Espírito Santo, por isso, devemos cuidar dele com todo
zelo e responsabilidade, ou seja, devemos ser bons mordomos de algo tão
precioso que o Senhor nos concedeu temporariamente (ICo 3.16; 6.19). O álcool é
danoso à saúde, bem como muitas outras substâncias, portanto, deve ser evitado.
Uma das piores características dele é o fato de ser uma substância que causa
dependência. Uma pessoa que afirma “beber socialmente”, pode perder o controle
ao passar por momentos difíceis na vida. Quem já não testemunhou essa triste
realidade?
Na cultura brasileira, com
algumas exceções, os cristãos reformados (evangélicos) não usam bebidas que
contenham álcool. Algumas denominações chegam a se posicionar radicalmente
contrárias. Por isso, esses cristãos que optam por fazerem uso dessas bebidas,
se tornam motivo de escândalo para o público em geral. O apóstolo Paulo foi um
dos maiores missionários da história. Além de pregar o evangelho, ele se
preocupava com a saúde espiritual daqueles novos discípulos. Escrevendo aos
romanos, Paulo instrui a igreja a nutrir um amor profundo uns pelos outros, a
semelhança de Cristo, chegando ao ponto de não se tornarem pedra de tropeço na
vida do irmão.
“Bom
é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão
tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça.” (Rm 14.21)
Isto posto, apesar de não
haver proibição expressa na Bíblia quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, não
obstante, pelos motivos supramencionados, não é aconselhável que o discípulo de
Cristo faça uso delas. Tudo me é lícito, mas, nem tudo me convém (ICo 10.23).
Juvenal Netto
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