Quem diria que um simples convite redundaria em experiências marcantes e transformações tão contundentes. Entretanto, quando esse convite parte de alguém como Jesus só fica perplexo aquele que nunca ouviu falar a seu respeito. Ele estava caminhando pelo mar da Galiléia e avistou dois pescadores, Simão e seu irmão, André, então, os convocou para segui-lo, com a promessa de que os elevaria a posição de pescadores de homens. Os irmãos não hesitaram, atendendo de imediato ao seu chamado. O testemunho de Simão, o pescador que virou apóstolo, possui características preciosas as quais podem contribuir sobremaneira para o fortalecimento de nossa fé.
Simão, a partir de seu primeiro contato com o
Senhor teve seu nome mudado para Cefas (no aramaico), ou Pedro, no grego, que
significam “pedra”. Já era um grande indício daquilo que ele se tornaria após
ser instruído e tratado por Cristo. A mudança no nome evidencia a conversão que
ocorre na vida de todo aquele que tem um verdadeiro encontro com Ele. Segundo as
narrativas dos Evangelhos, Pedro é um dos discípulos mais próximos de Jesus.
Era corajoso, destemido, extrovertido, impulsivo, características positivas de
seu temperamento sanguíneo, bem como, inconstante, violento e autoconfiante, traços
negativos deste mesmo temperamento.
O encontro de Pedro com Jesus não mudou o seu
temperamento. Ele não sofreu uma metamorfose, no sentido real da palavra. Entretanto,
quando ele se rende ao controle do Espírito Santo, marcado pelo dia de
Pentecostes, este Espírito começa a agir em sua natureza. Operando de tal modo
que as virtudes de seu temperamento começam a sobrepujar aos seus defeitos, ou
seja, ele continua sanguíneo, mas, agora controlado pelo Espírito Santo. Pedro
se tornou uma espécie de modelo para todos aqueles que, assim como ele, possuem
o mesmo temperamento. Comprovando o que Deus pode fazer na vida de um homem que
decide se render por inteiro a Ele.
O homem que começou seguir a Jesus era
“problemático” e ninguém se arriscaria em colocá-lo em sua equipe. Suas
virtudes eram quase imperceptíveis, tendo em vista que suas ações eram
predominantemente inconvenientes, assim, normalmente ocorre com as pessoas que
caminham distantes do Eterno e dominadas pelos instintos carnais. Pedro demorou
a assimilar os ensinamentos do seu Mestre. Quando o traidor Judas chegou com a
turba para prenderem a Jesus, ele lançou mão de sua espada e só não matou o
soldado Malco porque errou, arrancando-lhe apenas uma de suas orelhas (Jo
18.10). Quem não vilipendiaria um aluno tão ruim assim? – Cefas, Cefas, quantas
vezes eu não lhe disse que o meu reino não é deste mundo e que era necessário
que eu fosse preso, açoitado e crucificado? Jesus nunca desiste de uma pessoa,
ainda que seja cheia de defeitos, desde que esteja totalmente disposta a
persistir em segui-lo e ser tratada por Ele. Pedro fez algo ainda pior quando
negou o Senhor por três vezes, apesar de ter garantido que jamais faria tal
coisa (Mt 26.33-34). Você reconsideraria uma decisão a respeito de alguém após
ter sido traído por ela por três vezes consecutivas numa única noite? Jesus não
apenas o perdoou, bem como manteve o seu projeto inicial de usá-lo como uma das
colunas da igreja primitiva. O arrependimento sincero de Pedro e o perdão do
Senhor sinalizam para todos nós que haverá sempre uma oportunidade para nos
reintegrarmos ao propósito original de Deus, independentemente, do motivo pelo
qual tenhamos nos afastado dele.
Quando lemos o livro de Atos dos Apóstolos,
principalmente, a partir da descida do Espírito Santo, no dia de Pentecostes,
vemos um Pedro totalmente diferente daquele antes da crucificação. O seu
primeiro sermão foi tão impactante que quase três mil pessoas se converteram de
uma só vez (At 2.41). Seu testemunho na região que circundava a cidade de
Jerusalém era proeminente de tal maneira que as pessoas traziam os seus
enfermos para as calçadas de modo que, pelo menos a sua sombra pudesse
cobri-los, e assim muitas pessoas foram curadas por ele (At 5.15-16). Realizou muitos milagres e foi um dos grandes líderes
da igreja cristã nos seus primeiros anos. Defendeu sua fé em Cristo diante do
sinédrio e autoridades, chegando a preferir a morte a ter que parar de pregar o
evangelho (At 5.29). Pregou para judeus e gentios, sendo responsável pela
abertura de várias frentes missionárias. Escreveu duas cartas direcionadas aos
cristãos da Ásia Menor, com diversos ensinamentos que, posteriormente, vieram a
fazer parte do Novo Testamento. Viveu intensamente sua fé até seus últimos dias
e deixou um grande legado para toda a comunidade cristã.
Chegamos à conclusão que Jesus jamais se equivoca
em suas escolhas. Pedro era um diamante na sua forma bruta, ignorado pela
miopia dos homens. No entanto, o carpinteiro de Nazaré, desde o seu primeiro
encontro percebeu o seu potencial e decidiu investir nele. O apóstolo Pedro é
único. Jamais nascerá alguém igual a ele, não obstante, sua história serve de
inspiração para todos nós. Existem hoje muitos diamantes em nosso meio, talvez
até desprezados pelos homens, no entanto, muito evidente aos olhos atentos de
Jesus. A esses Ele estende o seu convite, assim como fez com Cefas.
Juvenal Netto
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