A prática de aplicar desenhos sobre o corpo é
muito antiga e existem provas arqueológicas comprovando que este costume já era
habitual em povos de diversas etnias há mais de 2000 anos a. C. O uso de
tatuagens apesar de não ser proibido, com raras exceções, é um assunto que gera
muita polêmica e evidencia preconceitos; no meio cristão, muito mais ainda. O
propósito aqui não é ser taxativo, radical ou preconceituoso para com aqueles
que já possuem algum tipo de tatuagem no corpo, mas, a luz da Bíblia, trazer
alguns parâmetros a serem observados por aqueles que estão em dúvida se devem
ou não fazer uso delas.
O primeiro aspecto que deve ser observado com
muita atenção é o fato destes desenhos serem praticamente irreversíveis.
Dependendo do tamanho, quantidade de cores e do tipo, se tornará impossível
removê-lo por inteiro sem deixar cicatrizes na pele. Nós mudamos de ideia e de
pensamentos constantemente no decorrer da vida e isto não ocorre somente na
fase da adolescência e juventude, mas, na fase adulta também. Quem fizer uso
deve estar totalmente consciente de que será para sempre, ou seja, não haverá
oportunidade para arrependimentos ou mudanças de ideias e estilos. Somente este
motivo já seria suficiente para fazer muita gente pensar com mais cautela antes
de pintar o seu corpo. Atualmente, parece que está em alta aplicar tatuagens,
ou seja, virou uma tendência; uma moda adotada por grande parte da sociedade
pós-moderna. Mas, não podemos esquecer que as tendências costumam ser cíclicas.
Logo aparece outra novidade para substituir a atual.
O segundo aspecto a ser analisado é quanto à
questão cultural. Uma cultura não se muda da noite para o dia. Apesar do crescimento
gigantesco da população que utiliza algum tipo de tatuagem, ainda existe muito
preconceito, discriminação e desconfiança por parte dos brasileiros, principalmente,
aquelas mais extravagantes e que são aplicadas em mais de 20% do corpo. Estas pessoas
acabam sendo associadas a outros determinados grupos que não tem uma boa
aceitação no âmbito geral da sociedade, como, por exemplo, as gangues
organizadas. E, por falar em cultura, as igrejas cristãs reformadas de um modo
geral, especificamente no Brasil, não veem com bons olhos esta questão; assim
como, o ingerir bebida alcoólica, ainda que de forma moderada e sem causar
embriaguez. Poderia citar aqui ainda muitas outras práticas que envolvem apenas
questões culturais no meio da igreja, sem haver um respaldo mais contundente
contrário na Bíblia. No capítulo oito da 1ª carta do apóstolo Paulo aos
Coríntios ele trata sobre um assunto que estava afetando a fé de alguns irmãos
que era o comer alimentos que haviam sido oferecidos a ídolos. Paulo discorre
sobre o assunto e chega a dizer que não havia qualquer problema diante de Deus
o comer ou não estes alimentos, não obstante, se isto estaria, de alguma forma,
afetando a fé de alguns ao ponto de haver problemas maiores na comunidade como
um todo, melhor seria que todos não comessem.
“Ora, pecando assim contra os irmãos, e ferindo
a sua fraca consciência, pecais contra Cristo. Por isso, se a comida
escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se
escandalize.” (ICo 8.12-13)
No capítulo dez desta mesma carta, Paulo disserta
ainda sobre os limites da liberdade cristã, afirmando o seguinte:
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas
as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas
edificam.” “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem
aos gregos, nem à igreja de Deus. Como também eu em tudo agrado a todos,
não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam
salvar.” (ICo 10.23,32-33)
Será que estas orientações do apóstolo Paulo
também não se encaixariam na questão em lide? E, um detalhe importantíssimo,
ele começa a sua fala no capítulo oito, enfatizando o amor como premissa e não
o conhecimento, deixando claro que não estava dando uma orientação meramente
religiosa ou farisaica. O saber sem o amor se torna antissocial.
O terceiro aspecto a ser observado envolve o
tema “mordomia cristã”. Partindo do pressuposto que todos os homens vivem por
um período limitado na terra; logo depois morrem; e que o seu corpo retorna ao
pó; se desprendendo do espírito, que volta para Deus, eu posso afirmar que não
somos donos absolutos do nosso corpo (Ec 12.7). Isto quer dizer que Deus o concedeu
temporariamente e que devo cuidar bem dele como um bom mordomo. Alguém, ao
chegar até aqui na leitura deste artigo, pode argumentar o seguinte: – Mas, por
que você está falando sobre mordomia em relação à tatuagem, tendo em vista, que
existem muitos outros cuidados com o corpo que se sobrepõe a este em
importância? Quando falamos em mordomia do corpo, automaticamente, estamos nos
referindo a todos os procedimentos que visem cuidar bem dele como, realizar
atividades físicas rotineiramente, se alimentar moderadamente, dormir pelo
menos oito horas por dia, etc. E, também cuidar da sua aparência. Existem
determinados desenhos que são verdadeiras pichações. Será que eu estaria
glorificando a Jesus com o meu corpo todo pichado? Se a resposta for sim, quem sou
eu para questioná-lo.
O quarto aspecto é parecido com o terceiro e tem
a ver com o local em que Deus habita. O templo dos judeus era dividido em
vários compartimentos. Um deles, chamado de “o Santo dos Santos” ou “Santíssimo”,
só o sumo sacerdote entrava nele e uma vez por ano; ele tinha que estar com a
sua vida santificada, senão, seria fulminado. Era o lugar que representava a presença do
próprio Deus. Jesus quebra as barreiras da separação e, a partir de então, todo
aquele que o confessa como Senhor e Salvador, o seu corpo passa a ser o templo
de Deus; o lugar da habitação do seu Espírito (ICo 3.6,17, 6.19). Até que ponto
valerá a pena fazer estampas no lugar que é a morada do Espírito Santo?
O quinto aspecto a ser analisado tem a ver com a
comunicação que a imagem é capaz de produzir. Por exemplo, sem uma palavra e
apenas com uma imagem seria capaz de passarmos uma mensagem sobre o apoio ao movimento
“LGBT”. Muitos tatuadores fazem pactos e utilizam desenhos místicos com o
intuito de enaltecerem determinada entidade ou passar alguma mensagem
subliminar. Nesta linha de pensamento, um cristão pode argumentar que nem
sempre a mensagem a ser transmitida será ruim e isto realmente é verdade.
Agora, resta saber o seguinte: Ao analisarmos todos os aspectos envolvidos,
será que valerá a pena utilizá-la mesmo assim?
O sexto aspecto não menos importante que os
anteriores têm a ver com a intimidade com Deus. O Senhor se relaciona conosco.
Ele não é um Deus mudo e fala aos corações dos homens que possuem ouvidos
sensíveis. Para isto, faz-se necessário que nos aproximemos com um coração
sincero e totalmente disposto a fazer a sua vontade. Com certeza, Ele nos dará
direção e discernimento a fim de realizarmos tudo aquilo que for o melhor para cada
um de nós e, ainda, glorificarmos o seu excelso nome com todo o nosso modo de
viver (Jr 33.3; Tg 1.5).
Portanto, amados irmãos em Cristo Jesus, mais
uma vez quero reiterar-vos de que a finalidade deste texto não é trazer nenhum
peso, fardo ou complexo de culpa a vida daqueles que já possuem algum tipo de
tatuagem. Todos nós somos conhecedores acerca da superabundante graça que há em
Cristo Jesus, sendo capaz de nos manter ligados nEle em toda e qualquer
circunstância, desde que haja arrependimento de pecados (Rm 8.31-39). O
verdadeiro objetivo aqui é oferecer elementos, tendo como base a própria Bíblia,
a fim de poder orientar a todos aqueles que estiverem em dúvida quanto ao uso
de tatuagens. Enfatizando que todas estas orientações se aplicam também ao uso
desequilibrado de brincos, piercing e outros tipos de adereços ligados ao
corpo.
“Portanto,
quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória
de Deus.” (ICo 10.31)
Juvenal Oliveira
Muito bom e de grande eficiência, abraço.
ResponderExcluirObrigado meu grande amigo por ter deixado o seu comentário. Se gostou, compartilhe com seus amigos e me ajude a disseminar o meu trabalho.
ResponderExcluirMto boa explicação!
ResponderExcluirResolvi escrever sobre este tema, principalmente para os jovens, pois as igrejas quase não se posicionam sobre o assunto, talvez por ser muito polêmico no meio evangélico. Quem defende o uso pode ser tachado de liberal e os contrários, de fundamentalista e religioso. Mas, os cristãos precisam sair de cima do muro.
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