terça-feira, 12 de julho de 2016

VISÃO PANORÂMICA DA BÍBLIA (CAPÍTULO II - GÊNESIS, MUITO MAIS QUE UM COMEÇO.)



CAPÍTULO II - GÊNESIS, MUITO MAIS QUE UM COMEÇO.

“Eu farei de ti uma grande nação ... em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn. 12.2,3)

Gênesis é o título dado ao primeiro livro da Bíblia. A palavra é de origem grega e significa "princípios" ou "gerações". É a palavra que aparece como titulo de dez seções de genealogias do Livro de Gênesis. A Bíblia Hebraica chama o Livro de Bereshit, porque usa sua primeira palavra como seu título.

A razão da palavra gênesis é que ela fala de origem, fonte, inícios. Este então é o sentido do Livro: mostrar como tudo começou. Ele forma o enredo original de toda a Bíblia. Os assuntos que nele aparecem de forma sintética, aparecem na Bíblia de forma ampliada. Por isso o primeiro passo é estudar a relação de Gênesis com toda a Bíblia.


2.1. GÊNESIS E A BÍBLIA


É geralmente aceito que a atividade de colocar a revelação por escrito pertence ao período de Moisés (Ex. 3). Sendo assim o conteúdo do Gênesis é uma síntese de toda a revelação dada por Deus anteriormente aos patriarcas e, mesmo sendo uma síntese, pois cobre mais de dois milênios de história, é suficiente como uma introdução básica e necessária para o restante da Bíblia. Se perdermos, por exemplo, os capítulos 1-11, ficamos sem respostas para muitas perguntas.

O Gênesis tem um caráter explicativo porque tudo o que lhe segue tem nele a sua origem e explicação. Nele se encontram, em forma embrionária, tudo o que vai se desenvolver mais tarde. Nele também se encontram as raízes de toda a revelação, e sem ele é impossível entender a Bíblia toda.

Grande parte das afirmações do Novo Testamento se encontra neste Livro. É por isso que se pode dizer que Gênesis está quase mais perto do   Novo Testamento do que do Velho, e de alguns dos seus tópicos mal se ouve falar de novo até suas implicações surgirem plenamente nos evangelhos”.

Para destacar a relação íntima que Gênesis tem com toda a Bíblia, que é inspirada, façamos alguns paralelos dele com o Apocalipse, o último Livro da Bíblia:


I ) Em ambos há um começo. No Apocalipse, temos um novo começo de toda a ordem que foi corrompida pelo pecado;

II) Em ambos temos o Éden. Deus não se esqueceu do propósito original para o homem. Ele levou avante o seu plano redentor e o levará até novamente nos colocar no Éden de plena comunhão com ele.

III) Em ambos temos os mesmos ideais de santidade e espiritualidade. O homem vivendo plenamente diante de seu Deus sem o pecado.

IV) Enquanto no Gênesis vemos que o plano de Deus ficou suspenso por causa do pecado, no Apocalipse vemos Deus  fazendo novas todas as coisas. Deus coloca tudo no seu devido lugar. (Compare os seguintes versículos para notar os contrastes entre Gênesis e Apocalipse: Gn. 3.23 = Ap. 21.25; 3.2 = 21.24; 3.17 = 22. 3; 3.24 = 22.14; 3.16-19 = 21.4; 3.67 = 21.27; 3.19 = 22.5; 3.13 = 20.10, 22.3; 3.8-10 = 21.3).

  

2.2. GÊNESIS E O PENTATEUCO


O Livro de Gênesis faz parte do Pentateuco, termo grego usado pela Septuaginta para indicar os cinco Livros atribuídos a Moisés. Pentateuco significa "cinco rolos". Os judeus chamam os cinco Livros de Torah, a Lei e cada livro têm o seu nome derivado da primeira ou primeiras letras de cada livro.

A relação de Gênesis com o Pentateuco é que ele mostra o surgimento de todas as coisas e principalmente a nação de Israel. Se começar pelo Êxodo, a história do povo fica sem sentido. Gênesis então mostra como Deus escolheu soberanamente um homem, Abraão, e a partir de sua família, formou uma nação e lhes prometeu uma terra: a terra da promessa feita a Abraão, a Canaã desejada e sonhada pelos patriarcas e por todo o povo da peregrinação pelo deserto.


2.3. O CONTEÚDO DE GÊNESIS

Podemos notar de forma geral que o Livro está relacionado com a pergunta: "Como tudo começou?" É por isso que há tanta ênfase na origem das coisas. O Gênesis mostra os seguintes inícios:
 l) do mundo, afirmando que ele foi criado ( l . I -25); 

II) do homem e da mulher ( I .26-2.25);

III) do pecado (3.1-7):

IV) da promessa da redenção (3.8-24);

V) da vida familiar (4.11 5);

VI) da civilização (4.16-9.29);

VII) das nações (10. 1-1 1.32) e

VIII) de um povo escolhido entre as nações (12.1-50.26).


1. A Criação (Cap. 1,2). O primeiro testemunho da revelação de Deus nas Escrituras se encontra em Gênesis 1.1: “no princípio...". Moisés não estava lá e nenhum outro homem pode dar testemunho deste evento magnífico de surgimento de todas as coisas. Somente Deus sabe todas as coisas. Perceba que a ênfase é sobre "os céus e a terra" e não sobre Deus. Não se procura definir Deus e nem estabelecer datas acerca destes acontecimentos. A Bíblia assume a existência de Deus como fundamento de todas as coisas. Ela não tenta provar que ele existe.
"No princípio ... Deus...” é como começa o Livro de Gênesis, porém, não um simples começo. Por trás da expressão existe uma profunda teologia, que nos faz ver que o mundo, o homem, a existência são plenos de significado. Ver o mundo  como vindo de um ato criador é vê-lo como o nosso ambiente vital, proposital e fruto de ato objetivo. O mundo sem um Criador continua um "abismo", um caos existencial, pois não sabemos de onde viemos, para o que fomos criados e nem sabemos nos relacionar com a ordem criada. A vida fica sem passado, sem futuro e o presente é um fardo pesado sobre um corpo que caminha sobre areia movediça.

Não se trata apenas de uma constatação óbvia de quem aceita que Deus é a origem de tudo. O criacionismo, doutrina que crê que Deus criou todas as coisas a partir do nada, é o ensino de Gênesis I e 2. A teoria da evolução, tão defendida, é apenas uma teoria que jamais poderá ser provada. O máximo que ela pode ser é uma interpretação do que aconteceu, mas a criação é testemunho direto de Deus.

A criação foi um processo de 6 dias, cuja coroação foi o homem. A sequência é lógica e tudo se faz mediante a Palavra de Deus. O mundo foi, num crescendo, se preparando para receber o homem que seria a única criatura capaz de se relacionar com Deus de forma inteligente, pois foi criado conforme a imagem e semelhança de Deus.

O capítulo 2 descreve em detalhes o que Deus realizou em relação ao homem, o qual é ao mesmo tempo magnífico e insignificante. Magnifico porque nele Deus soprou o fôlego da vida e insignificante porque foi feito do pó da terra (2.1-7). Deus providenciou tudo para que ele pudesse viver (2.8-14). Deu-lhe a liberdade, mas condicionou-a a lealdade e obediência          a Deus (2.15-17). O homem foi criado ser comunicativo e é com o cônjuge que partilha o seu mais íntimo ser (2.18-25).

2. Tentação e seus resultados (Cap. 3). Muitas dificuldades com a tentação de Adão e Eva. Ela é uma decorrência da liberdade, pois esta não é plena se não houver uma escolha entre duas ou mais alternativas. A tentação foi permitida por Deus. Se o homem foi tentado é porque é provido de vontade própria. O homem poderia ter dito não a Satanás. Não havia necessidade e nem obrigatoriedade de o homem haver pecado.

O processo de tentação ensina vários princípios. Henry A. Virkler diz que Satanás:

I ) maximizou as restrições de Deus;

2) minimizou as consequências;

3) deu novo rótulo à ação;

4) misturou o bem com o mal;

5) misturou o pecado com a beleza; e

6) levou Eva à má interpretação das implicações. O pecado trouxe resultados desastrosos, tanto para o homem como para a natureza, indo desde a perda da inocência até o amaldiçoamento da terra. Todo o homem e todas as suas relações foram prejudicadas pelo pecado.

3. O homem longe de Deus, o novo começo com Noé e a Torre de Babel (Cap. 4-11). Entre a queda e a chamada de Abraão, estima-se que haja quase 2000 anos de história. A descrição de Gênesis é uma síntese interessada mais na importância moral dos eventos do que no tempo cronológico decorrido. Nesta perspectiva você pode ler as genealogias dos capítulos 4 e 5 e perceber que há o interesse do autor em estabelecer dois tipos de pessoas: os filhos de Deus (cap. 5 - Sete e sua linhagem) e os filhos dos homens (cap. 4 - Caim e sua linhagem). Estes últimos perpetuaram a linhagem dos que se rebelaram contra Deus e aqueles constituíram a dos que se mantinham fiéis a Deus. O grande problema ocorreu quando os filhos de Deus cruzaram com os filhos dos homens. Os resultados foram trágicos, principalmente do ponto de vista moral (cap. 6).

O homem se distanciou de Deus de tal forma que este o visitou em um julgamento histórico severo na forma do dilúvio, o qual foi a execução de juízo, ao mesmo tempo que foi uma medida de salvação, a fim de que o homem não perpetuasse a sua maldade (cap. 7). A misericórdia de Deus, contudo, é grande e quis ter um novo começo a partir da família de Noé (cap. 8-10).

Deus havia, logo depois que Noé e sua família deixaram a arca, imposto severas restrições, tais como uma expectativa de vida menor, o trabalho mais difícil e a pena de morte (9.1-7) para poder conter a maldade humana.

A Torre de Babel foi a tentativa de o homem desobedecer a Deus na ordem de se espalhar e encher a terra. Queriam construir uma torre que, segundo alguns intérpretes, não tocasse literalmente o céu, mas que representasse o céu, ou seja, na torre todos os astros e divindades estariam representados. A torre era o monumento de idolatria. A confusão de línguas foi um limite que Deus impôs a maldade humana. Uma única língua é um instrumento poderoso na comunicação. A confusão de línguas provocou uma crise na comunicação.

4. Um homem, uma família, uma nação e a bênção para todas as nações (Cap. 12-50). Deus não esquece sua promessa de redimir o homem (3.15). Ele, que antes tentava agir na humanidade como um todo, agora se volta para um homem, a fim de por meio dele, abençoar a humanidade inteira. Abraão é este homem (cap. 12-20). O pacto com Abraão é confirmado por todo o livro (13.14-18: 15.1-21: 17.6-8; 22.15-18: 26. 1 -5: 28. 13-1 5). Abraão, por sua fidelidade é considerado o pai da fé (Hb. 1 1.8-19: At 7.3; Rm. 4: Gl. 3).

O pacto de Deus continua com Isaque (Gn. 26) e com Jacó (Gn. 28.13-15). Por meio de Jacó é que Deus começa a nova nação, pois ele, cujo nome foi mudado para Israel, é o pai dos 12 cabeças das tribos de Israel.

José é instrumento nas mãos de Deus para preservação de sua família, que não era uma simples família, mas aquela por meio da qual Deus iria trazer o Salvador. Tudo o que José passou no Egito foi necessário para que Deus cumprisse seus propósitos. Há muitos paralelos entre a vida de José e a de Jesus. O aspecto mais distintivo, porem, é aquele que mostra a dimensão de instrumento como salvação do seu povo. Israel não podia esquecer que era uma nação com uma vocação missionária. Deveria ser uma bênção para todas as nações.




ESTRUTURA DO LIVRO DE GÊNESIS
1 a 11 – GLÓRIA E DECADÊNCIA
12 a 50 – O INÍCIO DE UMA NAÇÃO
1.1-2.3 – A história da criação
2.4-3.24 – Prova e queda do homem
4.1-6.8 – O homem longe de Deus
6.9-8.14 – Deus visita a humanidade em julgamento
8.15-10.32 – Um novo começo
11.1-32 – Babel: um limite ao homem
12-20 – Abraão, o pai da fé
21-26 – Isaque, a fé sob prova
27-36 – Jacó e o surgimento de Israel
37-50 – José e a direção de Deus



2.4. A RELEVÂNCIA DE GÊNESIS PARA HOJE

Gênesis dá respostas que tornam a vida significativa. O Gênesis é mais que um livro que procura descrever como tudo começou: serve como uma chave hermenêutica porque fala do propósito primordial de Deus para a vida humana e seu mundo. Além de falar como as coisas se corromperam por causa do pecado, fala também de como, no princípio, deveriam ser.
Ensina como deveria ser o nosso relacionamento primordial com Deus. Se hoje temos que nos relacionar com Deus como nosso Redentor é porque elementos estranhos se interpuseram na relação primordial. O ideal de se relacionar com Deus nos moldes da relação de Gênesis I e 2 é perseguido por toda a Bíblia (veja Isaías 65.66). O Livro de Apocalipse estrutura a esperança em forma de um novo Éden, uma relação sem barreiras!
O Gênesis mostra que Deus já planejou salvar o homem! Em Gênesis 3.15 vemos o plano redentor de Deus. A expulsão do Jardim também foi um ato de misericórdia e salvação. O dilúvio e a confusão de línguas também são considerados atos de misericórdia de Deus. Ele dirige a história! A chamada de Abraão, bem como a direção de Deus sobre sua família, levando-a para o Egito, constituem atos redentores de Deus.
O valor das pessoas, tais como Abraão, Jacó e Isaque, no Gênesis estão no fato de elas contribuírem para os propósitos redentores de Deus. Deus olha para além das pessoas, porque elas não são um fim em si mesmo, mas meios nas mãos de Deus para que os seus propósitos sejam alcançados. O grande valor das pessoas no Livro de Gênesis reside exatamente nesta verdade. José é um exemplo. Ele mesmo entendeu que tudo em sua vida aconteceu para que Deus cumprisse os seus propósitos em salvar a sua família.


Referência Bibliográfica:
RIBEIRO, Jonas Celestino. Toda a Bíblia em um ano. 3ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Horizontal, 1997.




Nenhum comentário:

Postar um comentário