Nós nem chegamos ainda ao segundo turno das
eleições presidenciais de 2018 que elegerá o novo presidente da república e já
se pode constatar que nunca na história deste país a igreja cristã exerceu
tamanha influência no resultado de uma eleição. O assunto é extremamente
polêmico, mas, não tem como se fugir desta realidade e a pergunta que ecoa nos
ouvidos de muita gente é a seguinte: A igreja deve mesmo se envolver com a
política?
Ao se estudar a história da Igreja cristã
focando neste assunto, percebe-se que foi uma experiência traumática vivida no
passado num tempo em que não havia separação entre ela e o Estado, pois perdera
a sua essência e trilhou por caminhos escuros e tenebrosos. Tal experiência
acabou gerando por parte das lideranças uma aversão em lidar com todas as questões
relacionadas à política. Nenhum líder eclesiástico queria ter seu nome
envolvido diretamente a este sistema. Esta realidade vem mudando gradativamente
nas últimas décadas, principalmente, com o crescimento explosivo das igrejas
evangélicas, em especial, as neopentecostais.
É necessário que se tenha muito temor,
discernimento e, acima de tudo, muito equilíbrio no trato com este tema. O ser
humano possui uma enorme tendência em trilhar por caminhos extremistas, talvez
por ser mais fácil e simples de se lidar. Se houve excesso do envolvimento da igreja
no passado ao ponto dela se difundir com o Estado, depois deste período ela
caminhou no sentido oposto e não mais quis se quer participar dos debates
políticos que envolvem, inclusive, as questões de fé da sociedade. Nos últimos
anos ela começou novamente a se pronunciar e a se posicionar, incialmente de
forma tímida, pois começou a ser atingida diretamente pelo surgimento de
propostas de leis que vem de encontro a princípios básicos adotados e ensinados
por ela. Ultimamente ela tem se manifestado de forma mais contundente, talvez
por perceber o perigo que estava correndo em perder espaços que foram
conquistados com muito trabalho, suor e sangue. Mais quais seriam os limites
para este envolvimento?
Uma coisa é certa, os líderes das igrejas não
podem cometer o erro de transformar o púlpito, que é um lugar sagrado e
exclusivo para adoração a Deus, em um palanque. Os templos juntos com os seus
fiéis não devem ser transformados em currais eleitorais. Não há nada de errado
em um pastor, bispo, etc., se candidatar a qualquer cargo político, desde que,
não venha a utilizar a sua influência para promover a sua candidatura; neste
caso, ele deve desvincular a sua imagem eclesiástica do cargo que estará
concorrendo, inclusive, efetuando o registro da sua candidatura sem a menção do
seu título religioso. Além disto, o pretenso candidato deve saber separar muito
bem as funções exercidas por ele na igreja com as outras relacionadas à
política, durante e, após a campanha, se for eleito. Talvez ele até tenha que
optar entre uma atividade e outra. Não é através da formação de bancadas
políticas, como acontece com alguns grupos empresariais, que a igreja
conseguirá cumprir o seu papel na sociedade; as suas armas não são carnais, mas
espirituais, poderosas em Deus para destruir fortalezas (2 Co 10.4). O ideal
mesmo é que o candidato que possui algum título eclesiástico ao ser eleito a
qualquer cargo político que seja, desvincule a sua imagem da igreja, pois a
partir de então ele passa a ser um funcionário do povo e não deve limitar as
suas ações somente as pessoas que compartilham da mesma fé.
A igreja não deve e não pode fazer acordos com
candidatos ou partidos políticos em troca de benefícios, pois esta atitude não
é condizente com os ensinamentos do nosso Mestre e mesmo que não seja ilegal, é,
no mínimo, imoral, sem sombra de dúvidas.
Portanto, o envolvimento da igreja com questões
políticas não é errado, desde que se restrinja a orientações gerais por parte
das lideranças, sem mencionar nomes de candidatos ou partidos políticos no
intuito de trazer esclarecimentos quanto a princípios éticos, morais e
comportamentais que devem ser observados pelos fiéis ao escolherem qualquer
candidato que seja.
Juvenal Oliveira