A CRUZ tinha tudo para ser um objeto maldito, ignorado, desprezado
por toda a humanidade, principalmente por aqueles que professam a sua fé em
Cristo, afinal de contas foi por intermédio dela que o nosso Redentor padeceu e
sofreu até a sua morte. Segundo Thayer a cruz “era um instrumento conhecido
como a punição mais cruel e vergonhosa, emprestada aos gregos e romanos pelos
fenícios”.
Existem quatro relatos sobre
a crucificação de Cristo na Bíblia e hoje existem diversas encenações a
respeito, dentre elas uma que ganhou notoriedade pelo mundo inteiro, alcançando
inclusive países de predominância mulçumana; o filme “A paixão de Cristo”.
Neste filme, Mel Gibson, tenta reproduzir com a maior realidade possível o que
Mateus, Marcos, Lucas e João relataram nos seus evangelhos acerca da todos os
episódios que envolveram a prisão, humilhação, tortura e crucificação de nosso
Salvador e como a CRUZ foi a
principal causadora de dor e sofrimento ao nosso Mestre. Apesar de o filme
trazer cenas impactantes, não conseguiu dar um tom que pudesse nos levar a
alcançar a realidade dos fatos na sua totalidade, creio que o seu sofrimento foi
além daquele dramatizado no filme. A CRUZ
parecia, naquele momento, ter vencido o Filho de Deus.
O Diabo sorridente, não
sendo conhecedor dos planos insondáveis de Deus, achou que a CRUZ tinha vencido o Messias e por fim,
se tornando definitivamente um objeto maldito para todos os homens.
No terceiro dia, para total
frustração do inimigo de nossas almas, Jesus ressuscitou, vencendo a morte,
resgatando a criação através desta mesma CRUZ.
A partir de então, este objeto, considerado maldito, se tornou o símbolo da
nossa vitória e triunfo. Paulo usa com muita propriedade o simbolismo desta CRUZ: “Porque a palavra da CRUZ é loucura para os que perecem; mas
para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (ICo 1.18); “Mas longe esteja de
mim gloriar-me, a não ser na CRUZ de
nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu
para o mundo.” (Gl 6.14)
A CRUZ para nós cristãos se tornou o símbolo da reconciliação do
homem para com Deus como afirma ainda o Apóstolo Paulo: “Na sua carne desfez a
inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para
criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela CRUZ reconciliar ambos com Deus em um
corpo, matando com ela as inimizades.” (Ef. 2.15-16)
O significado da CRUZ trás outras conotações para os
homens além de vitórias e conquistas, talvez todos ao lerem este texto, concordem
com tudo que escrevi até aqui, sem retirar uma vírgula, pois quem não gosta de
ouvir sobre vitória não é mesmo? Porém o símbolo da CRUZ não tem somente esta vertente, ela significa que a vitória é
real, porém não sem lutas, sofrimentos e dores e esta é a parte que muitos
cristãos de hoje procuram ignorar (At 14.22).
Muitos hoje, de forma
irresponsável e até maquiavélica, para inflar o seu ego, encher os seus bolsos
de dinheiro e para encher as suas “igrejas” tem pregado um evangelho
triunfalista, onde só ensinam parte do significado da cruz, a parte fácil, boa
e tranquila, que é vitória, vitória e vitória!
Jesus traz para nós outro
significado para a CRUZ quando diz: E
dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada
dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á;
mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.” (Lc 9.23-24).
Jesus estava afirmando para os seus ouvintes que para segui-lo, era necessário
abrir mão do seu próprio “eu”, era necessário carregar diariamente a sua cruz,
no sentido de haver a possibilidade de passarmos por lutas, desafios,
sofrimentos e tempestades, que ser seguidor dele não é receber um atestado de
imunidade ao sofrimento, mas a garantia de morar com ele em seu Reino Eterno,
tendo o seu nome escrito no livro da vida. Não quero de forma alguma fazer
apologia ao sofrimento, às lutas, a dor e sim mostrar uma visão realista e
bíblica acerca da CRUZ e seus
simbolismos.
No evangelho de João,
capítulo 16, versículo 33, Jesus afirma: “Tenho vos dito isto para que em mim
tenhais paz...” “no mundo, ser meu seguidor lhes garantirá uma vida totalmente
ilesa ao sofrimento, tereis muito dinheiro no bolso, problema algum chegará a sua
tenda, não precisareis ir a médicos e tomar remédios, pois lhes garantirei a saúde
física e mental plena.” Pela forma com que muitos anunciam o evangelho hoje
parece que a conclusão do texto citado tem exatamente estas palavras, mas quem
conhece um pouquinho das escrituras vai identificar que não é bem assim, a
continuidade do texto é a seguinte “.... No mundo, passais por aflições; mas
tende bom ânimo; Eu venci o mundo.” Ele enfrentou a cruz, não fugiu dela e,
nela, foi exaltado e se tornou invencível, tomando assento à direita do Trono
do Altíssimo.
Portanto é impossível ser um
seguidor de cristo sem compreendermos a fundo o significado da CRUZ, não tê-la como um objeto místico,
mas entender o seu significado. A CRUZ
significa para todos os cristãos que o nosso Reino não é neste mundo e que nele
muitas vezes será necessário passarmos pelos sofrimentos da vida. A garantia
que Jesus dá é que assim como Ele enfrentou os desafios e venceu, nós também,
se perseverarmos Nele, alcançaremos também a vitória, assim como ele sofreu,
morreu e ressuscitou, nós também seus seguidores, sofreremos sim, não sabemos
qual a intensidade, Deus o sabe, mas ressuscitaremos com Ele para uma
eternidade de glória. Valerá a pena carregarmos diariamente a nossa CRUZ, não há nenhuma possibilidade de a
desprezarmos, se é que queremos realmente morar no céu.
Soli Deo Glória
Juvenal M. de Oliveira Netto
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