sexta-feira, 12 de junho de 2015

UM CRISTIANISMO SEM CRUZ

A CRUZ tinha tudo para ser um objeto maldito, ignorado, desprezado por toda a humanidade, principalmente por aqueles que professam a sua fé em Cristo, afinal de contas foi por intermédio dela que o nosso Redentor padeceu e sofreu até a sua morte. Segundo Thayer a cruz “era um instrumento conhecido como a punição mais cruel e vergonhosa, emprestada aos gregos e romanos pelos fenícios”.
Existem quatro relatos sobre a crucificação de Cristo na Bíblia e hoje existem diversas encenações a respeito, dentre elas uma que ganhou notoriedade pelo mundo inteiro, alcançando inclusive países de predominância mulçumana; o filme “A paixão de Cristo”. Neste filme, Mel Gibson, tenta reproduzir com a maior realidade possível o que Mateus, Marcos, Lucas e João relataram nos seus evangelhos acerca da todos os episódios que envolveram a prisão, humilhação, tortura e crucificação de nosso Salvador e como a CRUZ foi a principal causadora de dor e sofrimento ao nosso Mestre. Apesar de o filme trazer cenas impactantes, não conseguiu dar um tom que pudesse nos levar a alcançar a realidade dos fatos na sua totalidade, creio que o seu sofrimento foi além daquele dramatizado no filme. A CRUZ parecia, naquele momento, ter vencido o Filho de Deus.
O Diabo sorridente, não sendo conhecedor dos planos insondáveis de Deus, achou que a CRUZ tinha vencido o Messias e por fim, se tornando definitivamente um objeto maldito para todos os homens.
No terceiro dia, para total frustração do inimigo de nossas almas, Jesus ressuscitou, vencendo a morte, resgatando a criação através desta mesma CRUZ. A partir de então, este objeto, considerado maldito, se tornou o símbolo da nossa vitória e triunfo. Paulo usa com muita propriedade o simbolismo desta CRUZ: “Porque a palavra da CRUZ é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (ICo 1.18); “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na CRUZ de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” (Gl 6.14)
A CRUZ para nós cristãos se tornou o símbolo da reconciliação do homem para com Deus como afirma ainda o Apóstolo Paulo: “Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela CRUZ reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.” (Ef. 2.15-16)

O significado da CRUZ trás outras conotações para os homens além de vitórias e conquistas, talvez todos ao lerem este texto, concordem com tudo que escrevi até aqui, sem retirar uma vírgula, pois quem não gosta de ouvir sobre vitória não é mesmo? Porém o símbolo da CRUZ não tem somente esta vertente, ela significa que a vitória é real, porém não sem lutas, sofrimentos e dores e esta é a parte que muitos cristãos de hoje procuram ignorar (At 14.22).
Muitos hoje, de forma irresponsável e até maquiavélica, para inflar o seu ego, encher os seus bolsos de dinheiro e para encher as suas “igrejas” tem pregado um evangelho triunfalista, onde só ensinam parte do significado da cruz, a parte fácil, boa e tranquila, que é vitória, vitória e vitória!
Jesus traz para nós outro significado para a CRUZ quando diz: E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.” (Lc 9.23-24). Jesus estava afirmando para os seus ouvintes que para segui-lo, era necessário abrir mão do seu próprio “eu”, era necessário carregar diariamente a sua cruz, no sentido de haver a possibilidade de passarmos por lutas, desafios, sofrimentos e tempestades, que ser seguidor dele não é receber um atestado de imunidade ao sofrimento, mas a garantia de morar com ele em seu Reino Eterno, tendo o seu nome escrito no livro da vida. Não quero de forma alguma fazer apologia ao sofrimento, às lutas, a dor e sim mostrar uma visão realista e bíblica acerca da CRUZ e seus simbolismos.
No evangelho de João, capítulo 16, versículo 33, Jesus afirma: “Tenho vos dito isto para que em mim tenhais paz...” “no mundo, ser meu seguidor lhes garantirá uma vida totalmente ilesa ao sofrimento, tereis muito dinheiro no bolso, problema algum chegará a sua tenda, não precisareis ir a médicos e tomar remédios, pois lhes garantirei a saúde física e mental plena.” Pela forma com que muitos anunciam o evangelho hoje parece que a conclusão do texto citado tem exatamente estas palavras, mas quem conhece um pouquinho das escrituras vai identificar que não é bem assim, a continuidade do texto é a seguinte “.... No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; Eu venci o mundo.” Ele enfrentou a cruz, não fugiu dela e, nela, foi exaltado e se tornou invencível, tomando assento à direita do Trono do Altíssimo.
Portanto é impossível ser um seguidor de cristo sem compreendermos a fundo o significado da CRUZ, não tê-la como um objeto místico, mas entender o seu significado. A CRUZ significa para todos os cristãos que o nosso Reino não é neste mundo e que nele muitas vezes será necessário passarmos pelos sofrimentos da vida. A garantia que Jesus dá é que assim como Ele enfrentou os desafios e venceu, nós também, se perseverarmos Nele, alcançaremos também a vitória, assim como ele sofreu, morreu e ressuscitou, nós também seus seguidores, sofreremos sim, não sabemos qual a intensidade, Deus o sabe, mas ressuscitaremos com Ele para uma eternidade de glória. Valerá a pena carregarmos diariamente a nossa CRUZ, não há nenhuma possibilidade de a desprezarmos, se é que queremos realmente morar no céu.

Soli Deo Glória

Juvenal M. de Oliveira Netto

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