Que
transtorno para nós quando perdemos alguma coisa, compromissos muitas vezes
precisam ser adiados ou cancelados pela falta de tal objeto, essencial para o
momento. O pior de tudo não é o fato da perda em si, isto é natural, pois coisas
são perdidas a todo o momento por todos, mas sim quando temos a convicção de
que o que perdemos estava o tempo todo dentro de casa. Alguns diante desta
experiência, afirmam categoricamente: Eu não o perdi, ele está em algum lugar por
aqui, tenho certeza, em algum momento o acharei. Mas a verdade é que o fato de
termos a certeza de que o objeto está dentro da residência, não significa que
não esteja perdido, até que esteja novamente alcançável e disponível. Até que
se encontre, qual a diferença de algo que esteja perdido, mesmo que seja dentro
da própria casa ou em qualquer outro lugar, o fato é que ele está perdido e
ponto. A pior perda não é aquela visível, óbvia, aparente, mas aquela que não
percebemos de imediato, pois os seus danos poderão ser irreparáveis.
Citei
como introdução a perda de um objeto apenas para facilitar o entendimento
daquilo que pretendo abordar mais adiante que está dentro do assunto em foco,
porém muito mais importante e valioso do que qualquer que seja o objeto narrado
inicialmente.
Há
alguns anos atrás, o simples fato de termos a nossa família dentro dos muros
que delimitam a nossa propriedade, já era suficiente para ficarmos totalmente
despreocupados, pois tínhamos a garantia de que estaríamos seguros. Com o
advento da internet, whatsapp e CIA, as coisas mudaram, as pessoas acessam o
mundo inteiro de dentro de suas casas. Confesso que não sei ainda o que é mais
perigoso, se o mundo físico, real ou o mundo virtual, onde não conseguimos ver
rostos, caráter e muitas outras coisas mais que são importantíssimas para obtermos
um relacionamento confiável, ainda que não na sua totalidade, pois isto seria
uma utopia. A verdade é que muitos estão despercebidos quanto à evolução do
mundo e ainda creem que a sua família está a salvo dentro de sua casa. Ledo
engano, muitos maridos, esposas e filhos vêm traçando um caminho extremamente
perigoso que se originou a partir de seu próprio lar ao acessarem indevidamente
as redes sociais. Poderia pontuar uma série de experiências amargas vividas por
muitas famílias, tais como: Divórcio, adultério, inicialização na prostituição,
uso de drogas lícitas e ilícitas, envolvimento com o tráfico de drogas, exposição
moral, gravidez indesejada, bullying, abuso sexual, violência e até a própria
morte. Fato é que existem famílias perdidas dentro de suas próprias casas.
A
segunda perda despercebida que gostaria de abordar é em relação à vida
espiritual, saindo da avaliação em grupo, no caso a família, partindo agora
para o individual. Existe uma palavra que tem sido muito utilizada na
atualidade que, particularmente, a cada dia venho tentando me desvincular dela,
a palavra “evangélico”. Infelizmente hoje o termo “evangélico” se tornou, na
prática, a banalização do cristianismo. Talvez você me questione o que isto tem
a ver com o assunto? Diria sem medo de errar que existe uma grande multidão de “evangélicos”
perdidos dentro da casa do Pai. A religião lhes dá uma falsa sensação de
segurança.
Apesar
da parábola do filho pródigo (Lc 15. 11-32) parecer dar ênfase ao filho caçula
que saiu da casa de seu pai e gastou toda a sua herança, podemos aprender muito
com a experiência do filho mais velho. O seu comportamento narrado nesta
parábola demonstra nuances de seu caráter, de alguém, que apesar de estar
dentro de casa, não conhecia verdadeiramente o seu Pai. Existe ainda um fator
agravante nos chamados “evangélicos” de hoje, além de demonstrarem não conhecerem
verdadeiramente ao Pai pelo seu testemunho, também vivem em desobediência a sua
Palavra, algo que pelo menos este filho mais velho da parábola não fazia,
apesar dele não conhecê-lo a fundo, o obedecia.
Levantei
neste texto duas situações de perdas despercebidas, ou seja, aquelas que não
conseguimos enxergá-las de imediato, que como narrei inicialmente são as mais
perigosas pelo fato da grande probabilidade de não haver tempo suficiente para
retornar, ou “se achar”.
Ainda
falando acerca da parábola, na narrativa do Dr. Lucas, no versículo 17, ele diz
que o filho mais novo, o pródigo, caiu em si, como se estivesse saído de um
transe, acordou para a realidade espiritual e retornou para a casa do Pai.
Portanto
este é o tempo de sairmos todos do transe, nós maridos, esposas, filhos e “evangélicos”
e voltarmos urgentemente à casa do Pai, Ele está de braços abertos a receber a cada
um de seus filhos que se perderam dentro de suas próprias casas, só tenhamos o
cuidado de não abusarmos do tempo, porque como disse o profeta Isaías: “Buscai
o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto”. (Is 55.6). O
tempo se chama “hoje”.
Soli
Deo Glória
Juvenal
M. de Oliveira Netto
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