Não penseis que vim revogar a Lei e os
Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Mateus 5.17
Em Jesus encontrou a Divindade o seu
recipiente e veículo mais perfeito até hoje conhecido; através de Jesus se
revelou o eterno “Logos” (verbo) que no princípio estava com Deus e era Deus,
do modo mais puro que a humanidade conhece. A pura humanidade de Jesus não
contaminou a pura revelação de Deus; em Jesus encontrou o eterno Cristo a sua
manifestação mais completa e fiel.
Neste sentido diz o Nazareno: “Eu não vim
abolir, mas sim levar a perfeição, a lei e os profetas”.
Infelizmente, andam por aí umas traduções
inexatas que dizem “cumprir” em vez de “completar” ou “levar a perfeição”.
“Tanto no original grego como na tradução latina da Vulgata está “completa”“
(em grego plerosai, em latim adimplere). Se Jesus tivesse vindo para cumprir a
lei antiga, e não para lhe dar perfeição ulterior, não teriam sentido as
palavras “foi dito aos antigos”; eu, porém, vos digo; seria ele um dócil
discípulo de Moisés, mas não um mestre de perfeição superior.
O
que Jesus acrescenta a lei antiga é a atitude interior, ao passo que a lei
antiga se contenta com atos exteriores. A lei de Moisés opera no plano jurídico
horizontal, em que operam as nossas leis civis de hoje. Nenhuma autoridade
judiciária condena ou absolve um réu em virtude das suas boas ou más intenções
internas, mas unicamente em virtude dos seus atos externos. A alçada do
magistrado humano é o foro externo, mas para Deus é muito mais importante o
foro interno. O pecado não está, propriamente, no ato externo, físico, mas sim
na atitude interna, moral.
Afirma
Jesus que homicida não é somente, aquele que, de fato, mata um ser humano, mas
também aquele que nutre, ódio em seu coração; adúltero é também aquele que, sem
cometer adultério exterior, alimenta em seu coração desejos libidinosos e por
isto lança olho cobiçoso a uma mulher.
Atos
são efeitos ou sintomas de uma atitude, que é causa ou raiz. O verdadeiro
médico não está precipuamente, interessado em curar os sintomas de uma doença,
mas a própria raiz do mal.
O
Cristianismo de Cristo não tem por fim impedir que o homem evite apenas atos
maus, ou pratique atos bons, mas sim que crie atitude má.
Pode
alguém fazer o bem sem ser bom, mas ninguém pode ser realmente bom e não fazer
o bem.
Os
atos considerados em si mesmos são eticamente neutros, incolores, nem bons nem
maus, que lhes confere bondade ou maldade ética é a atitude ou intenção do
homem.
Se
Jesus tivesse abolido a lei antiga, que girava, sobretudo em torno de atos
teria declarado inúteis os atos externos. Se tivesse apenas cumprido a lei,
isto é, executado ao pé da letra aquilo que a lei antiga preceituava, teria
declarado suficientes os atos externos.
Se
tivesse abolido a lei antiga, teria sido revolucionário, demolidor; se tivesse
apenas cumprido a lei antiga, seria simples tradicionalista conservador. Mas
como ao mesmo tempo conservou o que havia de bom na lei antiga e lhe
acrescentou um novo elemento bom, é ele um verdadeiro evolucionista no terreno
espiritual-moral. Sobre a base do passado e do presente, ergue o Mestre o
edifício do futuro. Não basta que pratiquemos atos externamente bons, é
necessário que sejamos internamente bons.
JAIRO DE
SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário