domingo, 31 de maio de 2015

JESUS E A LEI


Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Mateus 5.17
Em Jesus encontrou a Divindade o seu recipiente e veículo mais perfeito até hoje conhecido; através de Jesus se revelou o eterno “Logos” (verbo) que no princípio estava com Deus e era Deus, do modo mais puro que a humanidade conhece. A pura humanidade de Jesus não contaminou a pura revelação de Deus; em Jesus encontrou o eterno Cristo a sua manifestação mais completa e fiel.
Neste sentido diz o Nazareno: “Eu não vim abolir, mas sim levar a perfeição, a lei e os profetas”.
Infelizmente, andam por aí umas traduções inexatas que dizem “cumprir” em vez de “completar” ou “levar a perfeição”. “Tanto no original grego como na tradução latina da Vulgata está “completa”“ (em grego plerosai, em latim adimplere). Se Jesus tivesse vindo para cumprir a lei antiga, e não para lhe dar perfeição ulterior, não teriam sentido as palavras “foi dito aos antigos”; eu, porém, vos digo; seria ele um dócil discípulo de Moisés, mas não um mestre de perfeição superior.
         O que Jesus acrescenta a lei antiga é a atitude interior, ao passo que a lei antiga se contenta com atos exteriores. A lei de Moisés opera no plano jurídico horizontal, em que operam as nossas leis civis de hoje. Nenhuma autoridade judiciária condena ou absolve um réu em virtude das suas boas ou más intenções internas, mas unicamente em virtude dos seus atos externos. A alçada do magistrado humano é o foro externo, mas para Deus é muito mais importante o foro interno. O pecado não está, propriamente, no ato externo, físico, mas sim na atitude interna, moral.
         Afirma Jesus que homicida não é somente, aquele que, de fato, mata um ser humano, mas também aquele que nutre, ódio em seu coração; adúltero é também aquele que, sem cometer adultério exterior, alimenta em seu coração desejos libidinosos e por isto lança olho cobiçoso a uma mulher.
         Atos são efeitos ou sintomas de uma atitude, que é causa ou raiz. O verdadeiro médico não está precipuamente, interessado em curar os sintomas de uma doença, mas a própria raiz do mal.
         O Cristianismo de Cristo não tem por fim impedir que o homem evite apenas atos maus, ou pratique atos bons, mas sim que crie atitude má.
         Pode alguém fazer o bem sem ser bom, mas ninguém pode ser realmente bom e não fazer o bem.
         Os atos considerados em si mesmos são eticamente neutros, incolores, nem bons nem maus, que lhes confere bondade ou maldade ética é a atitude ou intenção do homem.
         Se Jesus tivesse abolido a lei antiga, que girava, sobretudo em torno de atos teria declarado inúteis os atos externos. Se tivesse apenas cumprido a lei, isto é, executado ao pé da letra aquilo que a lei antiga preceituava, teria declarado suficientes os atos externos.
         Se tivesse abolido a lei antiga, teria sido revolucionário, demolidor; se tivesse apenas cumprido a lei antiga, seria simples tradicionalista conservador. Mas como ao mesmo tempo conservou o que havia de bom na lei antiga e lhe acrescentou um novo elemento bom, é ele um verdadeiro evolucionista no terreno espiritual-moral. Sobre a base do passado e do presente, ergue o Mestre o edifício do futuro. Não basta que pratiquemos atos externamente bons, é necessário que sejamos internamente bons.


JAIRO DE SOUZA

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